POR MAIS GANHO E CONTRA O PRECONCEITO
Corporações adotam a diversidade para ampliar vantagem competitiva no mercado
Formar um quadro de funcionários com equidade de gênero, inclusive em cargos de liderança, está entre os objetivos de corporações de ramos tão diversos quanto: escritório de advocacia, farmacêutica, indústria elétrica e eletrônica e laboratório de análises clínicas.
Estudo da Consultoria McKinsey aponta que empresas que possuem maior diversidade em conselhos e cargos executivos conquistam 50% de resultados mais satisfatórios.
O mesmo estudo indica que se houvesse equiparação salarial entre homens e mulheres, somente no Brasil haveria US$ 850 bilhões a mais girando na economia local.
No País, a área de engenharia é uma das que menos têm diversidade. Embora o número de mulheres com a formação tenha crescido 133% entre 2003 e 2013, conforme estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 86% dos engenheiros do País são homens.
Para contribuir com a mudança desse cenário, a empresa global de engenharia TE Connectivity passou a investir em um programa de diversidade. “Realizamos treinamento com líderes para que eles disseminassem a diversidade de gênero na empresa”, conta a gerente sênior de RH para América do Sul, Agnes Pelizer.
No treinamento, os líderes trabalharam estereótipos, preconceitos, vieses inconscientes e o impacto dessa postura na corporação, com o objetivo de desconstruir preconceitos.
Gerente geral da TE Connectivity, Daniel Malufi diz que os participantes perceberam o quanto tinham de vieses machistas inconscientes. “Isso mostra como o preconceito está atrelado a nossa cultura e como podemos nos desfazer dele, o que nos ajuda a evoluir como profissionais e como pessoas.”
Segundo ele, 90% dos líderes realmente se interessaram pelo conteúdo. “As mudanças foram percebidas no âmbito profissional e pessoal. Mexeu muito com os envolvidos e gerou grande reflexão sobre o quanto tínhamos de mudar”, diz Malufi.
Agnes afirma que depois de três anos, o resultado foi o aumento de 15% de mulheres em posições de liderança. “Hoje, temos quatro mulheres entre os 20 líderes. Queremos aumentar esse número e avançar em todas as áreas da diversidade.”
Entre as novas líderes da empresa está a gerente de vendas, Monica Biazon. Formada em engenharia elétrica, a profissional vence preconceitos desde a época da faculdade, feita no Instituto Mauá de Tecnologia. A turma tinha 75 pessoas e apenas quatro meninas.
“Para mim, se tornou natural estar envolvida com vários homens. Fui à primeira mulher contratada pela 3M para atuar com vendas de produtos elétricos. A contratação levou três meses, porque todo mundo queria conversar comigo. Eles diziam que eu teria de visitar obras e pisar no barro, e que teria de fazer palestras para um monte de engenheiros. Eu dizia, tudo bem, também sou engenheira”, recorda.
Monica acredita que para ser um bom líder, independentemente de ser homem ou mulher, é preciso ser profissional com competências e que goste do que faz. “Numa avaliação do ano passado, um funcionário contou que ficou incomodado quando assumi o cargo, mas depois passou a achar gratificante compor minha equipe e que gosta como me integrei ao grupo, trazendo novas ideias, respeitando e ouvindo a todos.”
Agnes diz que no final de 2016 a TE obteve da Organização das Nações Unidas (ONU) certificado de empresa que segue os sete princípios de empoderamento feminino. “A construção de uma nova cultura leva, em média, cinco anos. Acho que fomos pioneiros, localmente falando, pois mudamos nossa realidade em três anos.”
Meritocracia é o critério que rege a indicação de homens e mulheres aos cargos de liderança na Bristol-Myers Squibb (BMS). “Hoje, 60% da alta liderança e liderança são ocupadas por mulheres”, conta a diretora de RH, Jennifer Wendling.
Segundo ela, o número reflete o resultado de um grande trabalho para a realização de programas de desenvolvimento e em cima de meritocracia das funcionárias.
“Quando falamos de diversidade e inclusão estamos nos referindo a todas as dimensões. Falamos de gênero, raça, idade etc. E também de outras dimensões como o introvertido, o extrovertido, diferentes formações e background, entre outras coisas. Isso abre caminho para que a diversidade seja realmente abraçada”, afirma.
Jennifer acrescenta que a BMS adota estratégia global de remuneração que leva em consideração critérios técnicos para garantir a meritocracia e também monitora o mercado, por meio de pesquisa de remuneração anual.
“Desta forma, garantimos que todos os funcionários sejam remunerados dentro dos mesmos critérios, alinhados às práticas de mercado, o que impacta diretamente a (política de) ‘Diversidade & Inclusão’, pois todos são elegíveis às mesmas políticas e práticas”, conta.
A diretora afirma que em caso de empate no processo de seleção entre homem e mulher, a escolha sempre considera o que a empresa necessita e qual dos dois é o melhor para o negócio.
“Já contratamos mulheres grávidas. Eu fui promovida grávida. A gravidez não é impedimento, se aquela for a pessoa mais adequada à função. Não olhamos currículo observando idade ou gênero.”
Entre os benefícios proporcionados pela equidade de gênero ela aponta a obtenção de melhores resultados. “Isso se deve a troca de experiências e pelo fato de homens e mulheres terem visões diferentes sobre o mesmo tema. A diversidade é muito enriquecedora.”
Cris Kerr. Foto: Marcos Fiore/Divulgação/CKZ Consultoria
CEO da CKZ Consultoria em Diversidade, Cris Kerr afirma que é treinando e capacitando a alta liderança masculina das empresas que a ideia da diversidade vai sendo disseminada entre todos os colaboradores.
“Após um treinamento, um líder disse que se sentia guardião da diversidade e que iria se esforçar para mudar seu comportamento e seu modo de pensar, deixando de fazer piadas e brincadeiras preconceituosas. Ouvir isso é muito gratificante.”
Por CRIS OLIVETTE
Fonte: Jornal O Estado de S.Paulo – 08.Outubro.2017